Nos dias de hoje, reler este livro que a Garamond traz para o público brasileiro em oportuna reedição é uma necessidade política e pedagógica. É, além disso, uma releitura surpreendente, porque a obra, premonitória em 1896, continua atual em 2025.
Dois anos depois da condenação do capitão Alfred Dreyfus na França, o jornalista austríaco Theodor Herzl se antecipou aos horrores que estavam por vir no século seguinte e os que ainda estão chegando, no atual. Contudo, diferentemente de Émile Zola com seu Jaccuse, o manifesto que escreveu não pretendia ser denúncia, mas programa político, manual de instruções, utopia prática que se recusava a ficar na literatura. Herzl entendeu que a questão judaica não era religiosa ou socioeconômica, como pensaram respectivamente Bauer e Marx, mas uma questão nacional.
Os judeus precisavam de uma terra e de um Estado para chamar de seus, para não serem mais perseguidos e interditados como estrangeiros até nas pátrias que habitavam fazia séculos e às quais tinham chegado fugindo de perseguições anteriores até por aqueles cuja raça não estava ainda no país quando nossos pais já haviam aí padecido .
O Estado judeu é a certidão de nascimento do movimento de autodeterminação nacional do povo judeu, que iniciaria, liderado por seu autor, o caminho que levou à criação do Estado de Israel meio século depois.
Herzl morreu em 1904 e não viu os horrores do nazismo (a espantosa maneira em que a história lhe deu a razão), como também não viu seu sonho realizado em Jerusalém, mas ele já sabia: Na Basileia, eu fundei o Estado Judeu. Se eu dissesse isso em voz alta hoje, receberia como resposta uma gargalhada universal. Mas, senão em cinco anos, certamente em cinquenta todo mundo vai saber , escreveu no seu diário em agosto de 1897, depois do Primeiro Congresso Sionista Mundial. Foram, na verdade, cinquenta e um.
Sionismo não é palavrão. É a tradução política de uma esperança de mil anos, de um povo que quis ser livre em sua própria terra. É a obra antecipatória de um visionário que, além de pensar e escrever, organizou esse povo politicamente e lhe deu uma causa para lutar por ela. Por isso, é necessário voltar a este livro para libertar essa palavra sequestrada, refém da ignorância e do ódio, o mesmo ódio que fez do sionismo não apenas um sonho ou uma ideia, mas uma necessidade histórica.
Bruno Bimbi
Jornalista e escritor
Capa comum
Páginas: 146
Formato: 15,5x23 cm
ISBN: 978-65-5937-061-0