Sinopse
Os textos reunidos no livro organizado por Maria Nelida Gonzalez de Gomez e Regina de Barros Cianconi nos despertam para questões contemporâneas que tocam os problemas relativos à gestão democrática da informação, da produção e reprodução do conhecimento científico e da construção de narrativas e “verdades” ancoradas nas memórias dos documentos e arquivos que (re)fazem os eventos e acontecimentos históricos. Os textos da coletânea nos suscitam reflexões pertinentes à governança das democracias sociotécnicas contemporâneas. Um primeiro aspecto trazido pelo conjunto de trabalhos diz respeito aos desafios impostos às sociedades contemporâneas face à intensificação e difusão de dispositivos de normalização das práticas, discursos e dos mecanismos de formulação das identidades. Michel Foucault foi sem sombra de dúvida um dos melhores observadores e analistas das feições concedidas às instituições de controle na modernidade, tornando-se abrigos da sujeição dos indivíduos aos regimes de normalização e internalização das normas (Foucault, 1972, 1987a). O espírito do capitalismo não só conferiu vida às noções de individualismo e autonomia, mas também concedeu corpo a uma ideia de ética universal fundamentada na radical separação entre a ética e a moral, espaço público e privado, fazendo com que a “ética protestante” se tornasse majoritária na promoção de uma ética universalizante informada, neste sentido, pelos princípios do regime da normalização. Em grande medida, os EUA figuraram como a fonte irradiadora dos modelos de gestão da ética na pesquisa não somente pelo seu papel de destaque na política científica, mas pela amplitude que a ideologia liberal e individualista (e normalizadora) obteve nos diferentes contextos socioculturais.