Conflitos ambientais, corporações e as políticas do risco

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Descrição do produto

Uma das dimensões mais inusitadas do modelo de licenciamento ambiental brasileiro é o fato de que as instâncias responsáveis pela contratação dos Estudos de Impacto Ambiental são as próprias empresas interessadas na realização da obra geradora de danos ambientais. Estes estudos dependentes dos interesses corporativos devem conter um componente “socioeconômico”, via de regra realizado por sociólogos e antropólogos que buscarão caracterizar os grupos sociais potencialmente atingidos e propor medidas compensatórias que supõe-se capazes de restaurar o dano causado. A partir de uma refinada pesquisa junto a consultores e consultoras contratados para a realização “da parte social” dos Estudos de Impacto, Raquel Giffoni procura entender como o capital não apenas se apropria de recursos ambientais e territórios existenciais em sua espiral de acumulação, mas também se esforça por neutralizar as múltiplas resistências locais, através de um trabalho micropolítico posto em prática, em parte, a partir do trabalho de cientistas sociais. A narrativa deste livro nos conduz pelos meandros do mundo das consultorias, onde conhecemos em detalhes essas figuras dúbias que praticam uma ciência social constrangida pelo mercado. “Trabalhos de campo” de apenas um dia por localidade; entrevistas com “lideranças”; pesquisas panorâmicas com dados secundários; salário por produção; áreas de influência decididas a priori; projetos de mitigação como espaços de marketing empresarial para fins de controle social, eis algumas características desta ciência social just in time aqui tão bem analisada. O grande mérito do livro de Raquel Giffoni é o fato dele não trazer respostas prontas e nos permitir conhecer de perto e sem julgamentos esses sujeitos ambivalentes, peças de uma engrenagem que os ultrapassa, mas igualmente agentes capazes de instrumentalizar atributos como simpatia e abertura, além da confiança neles depositada, para fins da defesa de projetos altamente controversos. Raquel Giffoni Pinto descreve com muita consistência um modus operandi que, ao que tudo indica, não é propriedade exclusiva das consultorias, mas encontra perturbadoras ressonâncias com uma ciência acelerada, bancária, exangue e submetida aos imperativos do mercado, que vem ganhando espaço em universidades e centros de pesquisa, Brasil e mundo afora.

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