De onde provêm os parâmetros gerais do modo de ser e de existir humanos? Da cultura dominante num determinado grupo em um momento específico da sua história. Certo. Mas de onde provêm, afinal, os fundamentos universais de toda cultura? Essa é a questão de fundo que paira sobre a reflexão teórica deste livro. E, se levarmos em conta que cada complexo cultural é o conjunto dos meios de realização dos fins perseguidos por uma determinada sociedade, é de se encontrar aí a resposta adequada ao esclarecimento da indagação original. De fato, são os objetivos universais as finalidades supremas da nossa vida que fornecem consistência e forma ao ser e ao existir. No entanto, conferir finalidade e sentido ao estar neste mundo não é justamente a atribuição primordial da ética? Então, é nela que reside a chave da compreensão de toda construção humana. Resta apenas ressaltar que só escolhemos viver para uma determinada ética quando acreditamos que a sua realização será para nós garantia de Vida Boa.
Mas, como a meta da Vida Boa silencia sobre a condições que devem nortear os agentes no processo prático da sua realização, faz-se necessária uma normatização do agir de cada um, a partir da convicção de que o viver bem é inseparável da boa ação. É assim que Levy nos transporta para o campo da moral. Sempre sob esse pressuposto de que qualquer ética, se quiser se realizar como Vida Boa, requer uma moral específica que eduque cada um segundo os padrões assentes do agir correto.
Por fim, com muita verve, o autor consegue retirar toda essa discussão teórica do estado de pura abstração, religando-a ao fluxo da vida prática e dos múltiplos sistemas ético-culturais emergentes no curso histórico. Surge, assim, um texto pitoresco uma filosofia prenhe de história que se apresenta através de pequenos ensaios independentes, num encadeamento entremeado por questões éticas e morais, que recolhem registros na sucessão dos tempos: da antiguidade à contemporaneidade.